Nesta quarta-feira (14), a Associação das Empresas do Distrito Industrial (AEDIN) estreou sua participação no Fórum Mundial de Economia Circular 2025, com painel internacional sobre simbiose industrial. A coordenadora do Programa de Simbiose Industrial da associação, Melissa Rocco, compôs a mesa para discutir o “Sucesso colaborativo: construindo relações simbióticas na indústria”.
Ao lado de especialistas da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (em inglês, UNIDO), Kalundborg Symbiosis, Corporação Financeira Internacional (em inglês, IFC) e Associação Nacional de Empresários da Colômbia (ANDI), Melissa apresentou os primeiros resultados do programa pioneiro em desenvolvimento no Distrito Industrial de Santa Cruz (RJ). Na ocasião também compartilhou os desafios e benefícios da cooperação entre indústrias brasileiras.
A sessão reforçou a importância das estratégias circulares e colaborativas como solução concreta para os desafios da produção industrial moderna, e os impactos positivos dessas práticas no meio ambiente, na economia e na sociedade — com forte alinhamento aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, como os ODS 9 (Indústria, Inovação e Infraestrutura), 12 (Consumo e Produção Responsáveis), 13 (Ação contra a mudança global do clima) e 17 (Parcerias e meios de implementação).
Confiança como motor da economia circular
Melissa destacou que o primeiro desafio da simbiose industrial no Brasil é construir relações de confiança entre as empresas, ponto essencial para que trocas de recursos, dados e infraestrutura possam acontecer com segurança. “É por isso que precisamos de estruturas que apoiem e conectem essas empresas. Em Santa Cruz, temos a AEDIN, que há mais de 50 anos mantém relações com todas as indústrias do distrito. Essa confiança pré-estabelecida é a base do nosso programa”, explicou.
Ela ressaltou que o papel da AEDIN vai além da articulação: envolve mapear fluxos de resíduos, identificar sinergias e facilitar as trocas entre empresas, atuando como elo entre diferentes perfis industriais e promovendo uma lógica de ganho coletivo.
Avanços inspirados no modelo de Kalundborg
Questionada sobre os principais avanços de economia circular aplicados ao Distrito Industrial de Santa Cruz, Melissa destacou a implantação do programa de Simbiose, inspirado em modelo dinamarquês. “Aprendemos com Kalundborg há três anos. E estamos desenvolvendo esse programa em uma cooperação entre a AEDIN, a Kalundborg Symbiosis e o Governo do Estado do Rio de Janeiro”, afirmou.
Como parte da implementação, foi feito um mapeamento entre empresas de diferentes segmentos e perfis industriais para identificar processos produtivos, fluxos de materiais e possibilidades de reaproveitamento de recursos. “É importante pensar nos produtos excedentes que podem ser utilizados em uma rede de outras empresas”, complementou. Nesse cenário, a AEDIN atua como facilitadora, organizando dados quantitativos, coordenando o intercâmbio de informações e promovendo sinergias entre os participantes.
Iniciativas com impacto ambiental, social e produtivo
Entre os projetos em curso, Melissa destacou um sistema de reaproveitamento de resíduos orgânicos, que deve ser concluído ainda em 2025. “As empresas do distrito já estão separando resíduos orgânicos para compostagem. O material vira fertilizante, é direcionado a pequenos produtores rurais e depois retorna como alimentos que integram as refeições dos trabalhadores. O excedente pode ser vendido aos próprios colaboradores, gerando renda e promovendo segurança alimentar”, detalhou.
Outro foco do programa é o estímulo a cooperativas locais, pequenas empresas e iniciativas de capacitação profissional. “A meta é criar oportunidades de geração de emprego e qualificação de mão de obra a partir das comunidades do entorno do distrito”, afirmou.
Projetos para o futuro: hidrogênio e mercado de CO₂
Durante o painel, Melissa também antecipou uma iniciativa de baixo carbono associada ao Porto de Itaguaí, em fase de planejamento: um hub voltado à produção de hidrogênio e novos combustíveis. A proposta prevê o uso de CO₂ capturado como insumo em processos biotecnológicos avançados criando uma cadeia circular de valor a partir de emissões industriais.